Paisagem na janela

Da janela do meu quarto vejo a infância. Doce infância em que não fazíamos nada a não ser brincar. Não tínhamos preocupações com água, luz ou telefone. Não nos importávamos se estávamos feios ou bonitos e as pessoas gostavam de nós pelo que éramos e não pelo que tínhamos.
Vejo três meninas brincando de pular corda. Duas seguram e uma vai pulando, cantando uma musiquinha conhecida sem se preocupar com o aumento da inflação ou se vai chover ou não e, caso chova, elas tomarão um bom banho na chuva, afinal elas têm tempo.
Tempo... será que foi ele que diminuiu ou nós que ficamos grandes demais? As horas, os dias, os meses, os anos, passam cada vez mais rápido. Mas ao olhar da minha janela, lembro do tempo em que tudo que eu mais tinha era tempo! Depois que crescemos parece que ele escorre feito água em nossas mãos.
Queria eu, poder voltar à infância e aproveitar o melhor da vida, não que eu não tenha aproveitado, mas é que... eu sinto muita saudade. Quem sabe eu não poderia descer até a rua e brincar de pular com as três meninas que vejo, cantar umas musiquinhas engraçadas, brincar de amarelinha, pique-esconde, jogar futebol e depois tomar aquele banho de chuva.
Ah! De fato, seria ótimo. Olho ao redo do meu quarto abafado e sinto cada vez mais vontade de ir até lá brincar com essas menias: duas morenas e uma loura, com roupinhas coloridas e uma corda azul. Mas olho para o outro lado do quarto e vejo uma pilha de relatórios em cima da mesa e meu computador ligado esperando eu começar.
É, não sou mais uma criança e o tempo não anda para trás, mas eu só queria saber quando foi que eu cresci, pois nem eu mesma percebi.