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10.1.12

[Texto de segunda] Carnaval à moda inglesa - Amanda Pereira

— Eu não acredito que você está me fazendo fazer isso!
Adam sorriu daquela maneira que me irritava. Passou a mão nos cabelos daquela maneira que me irritava. Estava vestido da maneira que me irritava. Que droga, ele me irritava tanto!
— Acredite, não vai ser tão ruim assim.
Ah, claro, não seria tão ruim. Era domingo, um calor dos infernos no Rio de Janeiro, a cidade lotada e nós estávamos indo para a Praça XV onde era a concentração do tal bloco que o Adam estava louco para conhecer.
— Sabe, eu poderia de te chamar de filho da puta, mas acho que isso não seria tão educado — sorri, irônica.
— Ah, qual é Alexia! Eu vou embora no fim do ano e o primeiro mandamento de qualquer intercambista é aproveitar ao máximo seu intercâmbio. Pow, eu vir pro Rio e não conhecer o carnaval de perto é o mesmo que nada.
Eu parei no “eu vou embora no fim do ano”. Era a única coisa que ainda me dava forças para levantar todos os dias.
A verdade é que estava tudo uma droga. Desde que Adam chegou, eu era obrigada a fazer coisas que odiava como: ir à praia, caminhar em Copa, pedalar, tudo porque meus pais diziam que eu devia ser uma boa anfitriã. Mas agora ele passou de todos os limites possíveis. Me convidar para um bloco de carnaval é muita sacanagem. O que só me fazia desejar que ele voltasse logo para a porcaria da Inglaterra.
— Eu realmente só não vou te encher de socos porque você é um típico estrangeiro que acha que o Brasil e, mais particularmente, o Rio de Janeiro é só carnaval e bunda.
Ele apenas riu e pegou minha mão.
O ambiente estava detestável. Pelo menos para mim. O barulho, as marchinhas, as pessoas, tudo estava me dando nos nervos.
Eu olhei para Adam e ele parecia se divertir bastante. Pulava que nem um maluco e tentava sambar. O que foi ridículo, já que ele era desengonçado demais para isso.
Nos deram umas máscaras. Ele colocou, eu joguei a minha fora. Uns caras tentaram se aproximar e eu fiz questão de ignorá-los. Ao contrário de Adam que dava bola para todas as garotas.
Finalmente chegamos ao destino e a tortura havia acabado. Mas agora era oficial: eu odiava Adam Kirchhof!
Voltamos para casa sem trocar uma palavra. Ele até tentou, mas eu logo cortei.
Chegamos ao apartamento e eu fui logo para o meu quarto. Bati a porta com força. Cansei de ser boazinha. E, mesmo assim, meu pais, como sempre, não estavam em casa. Eu não precisava ser legal.
Lá pelas oito da noite alguém bateu à minha porta.
— Adam se você vier... — abri com raiva mas ele levantou um dedo para me interromper.
Ele estava vestindo uma camisa preta com a camisa do Reino Unido e uma calça jeans desbotada. Um All Star preto, o estilo original, completava o visual.
— Vem comigo. Eu tenho uma surpresa — ele piscou.
Não sei ao certo o porquê mas resolvi ir com ele.
Ele me conduziu para a sala e eu levei um susto quando chegamos lá. Ele havia preparado um jantar e enfeitado a mesa de forma brilhante. Tinha colocado suas réplicas em miniatura do Big Ben e da London Bridge. Eu sorri.
— O que é isso?
— É meu pedido de desculpas — ele respondeu com um sorriso enorme no rosto.— Eu quero que, esta noite, você se sinta em Londres.
Ele se aproximou do som e eu quase caí para trás quando reconheci a música que começou a tocar.
Close your eyes and I’ll kiss you
Tomorrow I’ll miss you
— Beatles? Assim não vale, você acertou meu ponto fraco.
— Eu sabia que você não ia resistir — ele jogou a cabeça para trás, se aproximando de mim.
Minha respiração começou a ficar irregular quando ele me tirou para dançar.
— Você é uma brasileira que ama a Inglaterra. Eu sou um inglês que ama o Brasil. Somos perfeitos um para o outro não acha?
Eu sorri e balancei a cabeça. O sol fez mal para ele, só podia ser isso.
— Eu acho que já está na hora de você parar de fugir de mim Alexia. — ele sussurrou de uma forma absolutamente irresistível.
Adam me fitou com tanta intensidade que eu não consegui desviar da porcaria daqueles olhos azuis perfeitos e hipnotizantes.
Ele se aproximou devagar e encostou seus lábios quentes e macios nos meus, na hora certa, no exato momento em que meus amados garotos de Liverpool cantavam: All my loving I will send to you, all my loving darling I’ll be true!
E naquele momento eu pensei que talvez, mas só talvez, nós pudéssemos mesmo dar certo.
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Como ontem a promoção foi ao ar, texto de segunda hoje.
Fazia um tempo que não postava algo meu. Espero que gostem.

Beijo e até a próxima.